As Fontes da Poesia, por Sri Aurobindo

trecho traduzido de Sri Aurobindo

 

“A velocidade da musa esteve incorporada na imagem do Pégaso, o cavalo celestial da lenda grega. Através das rápidas batidas dos seus cascos na rocha que Hippocrene fluiu. As águas da Poesia fluem numa corrente ou numa torrente. Onde há pausa ou falta, tal é o sinal de obstrução no córrego da mente que as águas escolheram como leito e receptáculo. Na Índia existe a mesma ideia. Saraswati é para nós a deusa da poesia, e seu nome significa o córrego, ou “aquela que se movimenta num fluxo”. Mas mesmo Saraswati é apenas um intermediário. Ganga (n.d.t: o rio Ganges) é a verdadeira genitora da inspiração; é ela quem flui impetuosamente a partir da cabeça de Mahadev, o Deus alto entronado, pelos himalaias da mente e pelas casas e cidades do homem. Toda a poesia é uma inspiração, uma coisa insuflada a partir das alturas no órgão pensante. Ela se guarda na mente, mas nasce no princípio mais elevado do conhecimento direto ou visão ideal que ultrapassa a mente. Em verdade, é uma revelação. O poder profético ou revelador enxerga a substância; a inspiração discerne a expressão correta. Nenhuma delas é produzida. Também a poesia não é uma poiesis ou composição, e nem mesmo uma criação, mas antes a revelação de algo que existe eternamente. Os ancestrais sabiam dessa verdade e utilizaram a mesma palavra para poeta e profeta, criador e vidente, sophos, vates, kavi.

“Mas há diferença na manifestação. A maior movimentação da poesia ocorre quando a mente é silente e o princípio ideal age acima e fora do cérebro, acima mesmo do lótus de cem pétalas da mente ideal, no seu próprio império; então o que se revela é o Veda, a substância perfeita e expressão da verdade eterna. Essa ideação superior transcende a genialidade, assim como a genialidade transcende o intelecto e percepção ordinárias. Contudo, essa grande faculdade continua além do nível normal da nossa evolução. Costumamos ver a ação da poesia revelação e inspiração vindo diretamente dos centros corretos nua e forte, simples e sublime, ou rica e esplêndida; ou pode se fazer romântica ou clássica; mas sempre será sentida como a coisa certa para o seu propósito; nobre ou exuberante inevitável.”

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